Liberdade de Movimentos
Ao entrar em contato com a água, crianças e adultos com sequelas ou traumas experimentam ganhos psicológicos e a agradável sensação de flutuar. na piscina, pacientes retomam funções muitas vezes perdidas
Márcia Maria Cruz
Publicação: 22/04/2012 04:00
A artesã Aretuza Garibaldi, de 61 anos, não esquece o dia em que voltou a caminhar. Depois de três meses deitada para se recuperar de um trauma no quadril, os primeiros passos foram dentro da piscina. “As pessoas não fazem ideia do que é andar de novo, o que significa ficar em pé e sentir o próprio corpo. Quando consegui dar os primeiros passos, tive a sensação de que tudo ficaria bem”, diz. Ela mal podia acreditar que a dor desaparecera. As lágrimas foram inevitáveis. Na primeira sessão, mesmo não estando completamente recuperada, algumas das características da água foram fundamentais para que ela pudesse ter segurança para continuar o tratamento – a flutuação, que reduz o impacto nas articulações, já que dentro d’água algumas dores desaparecem.
Embora ainda não seja uma especialidade, a fisioterapia aquática ou hidroterapia ganha cada vez mais adeptos. O conjunto de técnicas pode ser prescrito como forma de recuperação para diferentes especialidades médicas, como ortopedia, geriatria, reumatologia, neurologia, neuropediatria, entre outras. Por essa razão, a hidroterapia é indicada para o tratamento de problemas nas articulações, coluna, quadril, bem como problemas degenerativos, como artroses, hérnias de disco; problemas inflamatórios, como artrites, artrites reumatoides; e problemas traumáticos, como fraturas e entorses.
Cada vez mais a hidroterapia tem sido procurada por pessoas com sequelas neurológicas, tanto adultos como crianças. Associada à fisioterapia clássica, ela contribui para retomar funções perdidas, bem como melhorar a qualidade de vida dos pacientes. “A terapia contribui para que os pacientes ganhem alongamento e força muscular. Por meio dela também trabalhamos o equilíbrio”, afirma a fisioterapeuta da Aquática Fisioterapia Michelle Pires. A clínica é especializada no atendimento de pacientes que ficaram com sequelas devido a acidentes vasculares cerebrais (AVC), traumatismo cranioencefálico (TCE), paralisias cerebrais e distrofias musculares.
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Giovana Linhares ensina Aretuza Garibaldi a flutuar, o que ajuda na redução de dores no quadril |
A água contribui para que crianças e adultos, que devido a sequelas neurológicas não conseguem sequer ficar sentadas, possam retomar essa função. “O mais interessante é que na piscina os pacientes executam funções e posturas que não são possíveis de ser realizadas fora d’água. O paraplégico consegue dar os primeiros passos, com algumas adaptações”, diz.
Por ser um ambiente lúdico, a piscina é favorável para o tratamento de crianças, que fazem os exercícios como se estivessem brincando. A temperatura da piscina – em torno de 32 a 34 graus – contribui para melhorar os efeitos fisiológicos, bem como para o relaxamento muscular. “Outra característica da água é a analgesia. Ela contribui para reduzir as dores e também atua sobre a função renal e cardiovascular”, pontua Michelle. Como a pressão da água também altera a pressão arterial de quem entra na piscina, é preciso cuidado redobrado com pessoas que são hipertensas e fazem atividades aquáticas.
É importante fazer a aferição antes, durante e depois de o paciente entrar na piscina. Michelle lembra que qualquer pessoa quando sai da piscina tem pico de pressão. No hipertenso, segundo ela, essa variação deve ser acompanhada, para que não haja nenhum prejuízo para a saúde do paciente.
AUTOESTIMA Os ganhos psicológicos advindos com a submersão também contribuem no tratamento. “A água serve como auxílio. Esse contato é muito positivo para a autoestima e a parte emocional do paciente”, pontua a fisioterapeuta Andrea Cristina Machado Pereira. As especialistas contam com uma série de ferramentas para auxiliar o trabalho, como flutuadores (boias, coletes cervicais, caneleiras de flutuação). Em alguns tratamentos é indicado que o paciente flutue. Em outros, é necessário dar a ele estabilidade. “A água é um meio muito instável. O paciente neurológico apresenta déficits de equilíbrio muito grandes. Temos que dar estabilidade a ele”, exemplifica Andrea.
Entrar na piscina é um momento de alívio para Maria da Conceição Sá Martins, de 80, que sofre há seis meses com dor lombar. Depois de ter se submetido a diversos tratamentos, a dor persistia e foi na fisioterapia aquática que ela vem se tratando, com resultados muito positivos. “Aqui dentro da piscina não sinto nada. A água é um alimento para o corpo. É como se estivesse tomando um remédio”, declara Maria da Conceição. Para a fisioterapeuta Giovana Macedo Linhares, é uma oportunidade que os pacientes têm de experimentar a liberdade de movimentos, que por diversas razões ficaram limitados